quarta-feira, 30 de maio de 2018

MARCAS DE APRENDIZAGEM: a "sujeira" que ensina.



Durante as formações de professores que ministro e as conversas entre profissionais da educação infantil e séries iniciais do fundamental I, é recorrente a discussão sobre realizar propostas no qual as crianças se sujam. 

O que fazer com a reclamação dos pais ou com a instituição que de alguma forma restringe esse fazer que suja? Como lidar com as incoerências existentes nesses dois casos?

Pode, mas não pode sujar o espaço físico; 
Pode, mas não pode manchar o uniforme; 
Pode, mas não tem apoio; 
Não pode, mas também não quer que a criança perca a vivência... 

As vivências que "sujam" são muito saudáveis, mas deixam alguns professores em uma situação complicada: mais preocupados com a roupa da criança e com o espaço do que com a potência dessas experiências. Chegando ao ponto de até a lavar a camiseta da criança e secar na escola para não ouvir reclamações. Algumas escolas já têm essa questão bem resolvida, muitas outras não.


É preciso refletir sobre até que ponto o exagero da higienização pode privar as crianças de descobrirem o mundo, senti-lo e experienciá-lo, lembrem-se que são sujeitos de direitos. O desenvolvimento dos sentidos acontece a partir do contato com o mundo. Como a criança vai saber sobre as sensações se ela não puder experimentar várias vezes? Essa forma de descobrir o mundo é como a criança aprende.

Existem muitas queixas por parte das famílias que não compreendem, portanto não toleram que seus filhos voltem para casa com a roupa da escola suja, como se o professor fosse descuidado. 

Vamos refletir um pouco sobre essa "roupa da escola": tem uniforme? Para que serve o uniforme? Não tem uniforme? Então qual é a roupa ideal para ir à escola? 

Uniforme serve para ir à escola, é pratico e ajuda com a questão do desgaste das roupas. Se não tem uniforme, precisa ter uma "roupa de ir para escola" que são roupas que já estão bem mais usadas, se manchar tudo bem e ainda precisam ser confortáveis.

Roupa nova, assim como calçado novo não são adequados para ir à escola, pois podem manchar e a criança se mostra triste e preocupada quando isso acontece, a outra opção seria ter uma troca de roupa na mochila. 

Essa regra da roupa também vale para os professores, pois nós também nos sujamos: manchamos roupas e essas acabam sendo separadas para trabalhar. Se o profissional usa uniforme, precisará usar o mesmo, lavado, mas com manchas. E quando decidimos ir trabalhar com uma roupa diferente da "de trabalho", já sabemos que corremos o risco.

As manchas nas mãos, pés e unhas acontecem tanto para as crianças quanto para as professoras. Nós também participamos das propostas, depois organizamos tudo, lavamos e inclusive nos arriscamos a fotografar com as mãos sujas.

Dependendo da idade, as crianças nos ajudam a organizar os ambientes e a separar os materiais. Proporcionamos autonomia para que busquem e carreguem alguns materiais, por exemplo, um pote de tinta, um ingrediente da culinária, um recipiente da alimentação e acontece de cair na roupa ou no chão. Faz parte da aprendizagem, de se responsabilizar pelo que faz, querer ajudar novamente, acreditar em si mesmo, se sentir capaz.

No caso das tintas, existem os camisetões e aventais que servem para evitar que manchem a roupa de baixo, mas não é garantia que não vá sujar, afinal trata-se de uma criança! 

Na verdade não gosto muito de nenhuma dessas opções. Sempre ou são grande demais e as mangas vão parar na tinta ou pequenos demais e não protegem tanto. A tinta passa de um tecido para o outro e as próprias crianças limpam as mãos neles. Os aventais também não auxiliam tanto, sempre acontece uma mancha.

Algumas instituições escolares reclamam das professoras que fazem "sujeira": tinta no chão, na parede, nas mesas. A escola precisa ser limpa! Como se essas marcas revelassem sujeira e não aprendizagem, vida!

Já fui repreendida várias vezes, inclusive já me sujeitei a limpar para poder fazer meu trabalho em paz. Também já presenciei professoras que extrapolaram em tamanha desorganização por falta de experiência ou supervisão e acabaram por estragar mesas, móveis, lousa etc. 

As crianças se sujam em diferentes propostas na escola: arte, culinária, parque e alimentação. Elas estão crescendo, estão aprendendo!

Eu não consigo entender essa "sujeira" como uma questão tão grande para chegar a causar problemas entre a escola e o professor ou o professor e a família. Chegamos até a receber bilhetes de reclamação ameaçando tirar a criança da escola (no caso da particular). E a maior reclamação é lavar a roupa, lavar as meias, uniforme manchado...sem pensar no desenvolvimento dessa criança.

As concepções da escola precisam estar de acordo com a concepções do professores e da família para evitar esse tipo de problema. Pode ser interessante uma sensibilização para acessar as memórias de infância tanto da equipe de professores, quanto dos pais, conhecer um pouco sobre cada um: como era o brincar na infância?
Devemos considerar que também é importante fazer um trabalho de reflexão na reunião de pais: a documentação pedagógica, por exemplo, tem um papel fundamental para mostrar como funciona essa sujeira e porque acontece, em prol do que defendemos e não nos preocupamos com ela. 

Algumas crianças também precisam aprender a ser crianças, algumas já foram condicionadas e não gostam de participar de propostas porque (por influência do adulto) não querem se sujar.

A mania do adulto de limpeza e organização pode acabar refletindo na criança, o medo de levar bronca pode causar sofrimento por ela deixar de fazer algo que gostaria, além de se sentir valorizada apenas quando estiver limpa. A exploração, a descoberta e as sensações tornam apenas "sujeira". Com nosso incentivo, aos poucos elas são conquistadas: começam observando e depois em outras oportunidades experimentam de pouco em pouco, ás vezes demorar o ano todo, é um processo de desconstrução que precisa ser respeitado no ritmo de cada uma. 

As crianças são singulares, é fácil observar desde pequeninas que algumas entram por inteiro na tinta, na lama, nas propostas de culinária ou mesmo como se alimentam e outras menos.

A opção de dar banho ou trocar de roupa serve para propostas muito melequentas planejadas pelo professor com essa finalidade mesmo. Agora pequenas sujeiras no corpo lavamos mãos e rosto, pequenas sujeiras na camiseta, vão para casa assim mesmo, damos preferência para trocar roupa molhada ou úmida.

Depois que a criança passa um período na escola cheia de propostas tão atraentes, o difícil é não ter marcas de aprendizagens em seus próprios corpos: tinta, canetinha, giz de lousa, terra, água, molho de tomate, feijão, achocolatado, iogurte, farinha de trigo, calda de fruta, etc. E mesmo que, ao saírem do parque, orientamos a tirarem a areia do corpo, em alguns momentos nos deparamos com montinhos de areia pela sala e ao conferirmos encontramos areia nos calçados, nos bolsos...pistas de que estão se divertindo muito! Sim, as professoras também levam areia para casa em seus corpos, isso para as que, como eu, mergulham com as crianças na brincadeira (quando convidada).

Penso que as famílias deveriam ser convidadas a entrar mais na escola e participarem da rotina, dos projetos, de decisões importantes. Pensar em um dia específico para oferecer propostas aos adultos parecidas com a que oferecemos às crianças, seria maravilhoso para compreenderem melhor. 

Existem estudos, comprovações científicas de especialistas de diversas áreas que defendem o quanto é importante a criança se sujar, que traz muitos benefícios e a bandeira que levanto aqui é o fortalecimento das aprendizagens. Passar por todas essas propostas no seu ritmo, com liberdade para explorar, desenvolve a criança de forma integral.

Acredito que oferecer um espaço para essa exploração do mundo é papel da escola. A sociedade mudou muito, a estrutura familiar, a utilização dos espaços públicos, o avanço da tecnologia, as agendas lotadas, o contato com a natureza...um cotidiano cada vez mais apressado.

Se sujar faz parte! Promove prazer e felicidade!

Os professores devem sempre orientar todas as crianças em relação a essas marcas para se cuidarem, assim aos poucos elas vão aprendendo a usar mais o guardanapo, os paninhos, as pias, etc. E lembrem-se nós professores, também não escapamos e voltamos para casa com essas marcas. 

Marcas de que trabalhamos com uma infância livre e saudável!

VISITE O NOVO SITE DO BLOG CULTURA INFANTIL www.blogculturainfantil.com.br/blog

*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

LITERATURA INFANTIL: indicações Brinque-Book

Ilustração: Cocoreto
Tradução: Gilda de Aquino

Esse livro para bebês é uma graça! Contei muitas vezes para meu grupo de crianças de 10 a 18 meses. Eles ficaram encantados! E já sabiam todos os dias depois do almoço, durante mais de um mês, era hora da história.

Eles adoram a brincadeira esconder o rosto e aparecer novamente e o livro traz essa ideia só que com animais. A cada página a pergunta "Quem está aí?" entusiasma os pequenos para abrir a aba e ver o animal, também adoram que eu faça o som de cada um. E quando termino a leitura pedem mais e mais....

Boa interação!


Texto: Tino Freitas
Ilustração: Mariana Massarani

Já ouviu a expressão popular "Tem um parafuso a menos na cabeça?" foi dela que lembrei assim que abri o livro.

As ilustrações são belíssimas, cheias de detalhes e cores. Com certeza arrancará muitos risos das crianças. 

O texto é muito divertido! Apresenta a ideia de falta de juízo. A cada página o menino faz uma confusão durante sua rotina e exemplifica o que seria esse parafuso solto. E sabe onde ele encontrou o juízo? Na imaginação! 

No final há um convite para o leitor.

Cuidado para não perder seu parafuso durante a leitura!



Texto e Ilustração: Nicola O'Byrne
Tradução: Gilda de Aquino

A capa  mostra alguns personagens dos contos clássicos...então qual será o escolhido? 

Com um belo texto contemporâneo, o narrador faz pate da história e conversa com os personagens e com o leitor.

Porquinhos, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Lobo Mau, todos misturados e disputando quem será a última história antes de dormir. Uma grande confusão que resultou em uma história rasgada. Será que isso vai dar certo?

As crianças vão adorar rever os personagens em um contexto diferente do que já conhecem e perceberão as características de cada narrativa misturadas no texto, além dos balões com as falas de cada um.

O final surpreende e é um convite a reinventar outras histórias.

Boa diversão!

Texto: Tim Hopgood
Ilustração: David Tazzyman
Tradução: Gilda de Aquino


Cada um tem suas verdades, seus pontos de vista, mas tem gente que adora omitir alguns fatos ou não assumir o erro.

Arthur fez algo que a mãe avisou que não era para fazer e deu errado. E agora será que ele vai contar a verdade? 

A cada pessoa que perguntava o que havia acontecido, o menino respondia torcendo, esticando, encobrindo, disfarçando, escondendo e ignorando a verdade, nunca ficava satisfeito com os comentários até a última pessoa gostar de uma explicação que começou assim "eu não tenho nada a ver com isso foi..."

A verdade sempre aparece, não adianta tentar enganá-la e foi assim que Arthur resolveu a situação: dizendo a verdade. E não é que tornaram-se grande amigos!

Um ótimo livro para conversar com as crianças sobre mentiras e omissões.

Boa reflexão!


Texto: Bernd Penners
Ilustração: Henning Löhlein
Tradução: Hedi Gnädinger


Vamos brincar de cuidar dos animais? São cinco bichos machucados precisando de carinho, cuidado e curativo!

Ao abrir o livro você encontrará os curativos, um para cada animal. Preste atenção! Ele gruda e desgruda das páginas várias vezes.

O cachorro, o macaco, a ovelha, o elefante e o urso são amigos super ativos e adoram se reunir para brincar. Só que o cachorro sofreu uma torção na pata, o macaco bateu a cabeça, a ovelha arranhou a barriga, o elefante escorregou e machucou a tromba e no cachorro espetou algo em seu bumbum. Como será que tudo isso aconteceu?

Vamos ajudá-los!?


Ilustração: Yu-Hsuan Huang
Tradução: Gilda de Aquino

Fazenda é um tema que a crianças pequenas amam! 

Desde a capa já é possível interagir com o livro por meio de uma aba que sinaliza que devemos puxar, assim o trator anda e aparecem outros bichos.

A cada página novas abas e convites para interagir com cada bicho: imitar a vaca, encontrar o porco, guardar os carneiros e galopar com o pônei. Ufa! São tantas tarefas para realizar na fazenda.

Pronto para ajudar o fazendeiro?