sexta-feira, 15 de novembro de 2013

BRINCAR NA PRAÇA: uma breve reflexão


“Memória”

“ Houve um dia aqui uma praça
Onde tantas crianças cantavam
Houve um dia aqui uma praça
Onde os velhos sorriam lembranças
Houve um dia aqui uma praça
Onde os jovens em bando se amavam
E os homens brincavam trabalhando
Um trabalho sem desesperança
Digo meu filho que esse jardim
Era o viço da vida vingando
Digo meu filho que esse jardim
Era o branco dos dentes brilhando
E a festa da vida seguia
Pelo o franco dos gestos libertos
Digo de fresca memória que não aqui não havia
Do medo este cheiro
Digo de fresca memória que não aqui não havia
De estátuas canteiros
Houve um dia aqui uma praça,
uma rua, uma esquina, um país
houve crianças e jovens e homens e velhos
um povo feliz.”

(Gonzaguinha)


Uma das minhas observações frequentes ao viajar pelo Brasil ou por outro país, é verificar como e por quem o espaço público é utilizado, e se há condições de ser frequentado.

É muito perceptível o quanto a vida das pessoas muda quando esse espaço passa a fazer parte da comunidade e ganha um valor especial: momentos de encontros, de brincar, de descobertas, de se divertir, de ler, de passar o tempo, de conversar, de fazer piquenique ou churrasco; de conhecer pessoas, namorar, jogar bola, ouvir música, misturar as “tribos” e faixas etárias, trocar, contemplar, ter contato com a natureza, ter liberdade etc. Uma vivência muito valorizada.

A praça como um lugar de circulação e de permanência, onde se guarda memória. Possibilita encontrar-se com sua própria cidadania, dar vida ao espaço, cuidar dele. Um local perfeito para a interação social, as manifestações e as festas. O contrário do que nossa sociedade alimenta: shoppings, condomínios fechados e escolas muradas.

Infelizmente o espaço público não é muito privilegiado aqui em São Paulo: a maior parte das praças ficam abandonadas e os parques sempre lotados. Parquinhos para as crianças brincarem ao ar livre são raríssimos e na maioria das vezes, existem porque os moradores ou alguma empresa privada é que toma iniciativa reorganizá-los e mantê-los.

Pensando nos espaços públicos na cidade, lembro-me que brincava bastante em praças e atualmente vejo pouco esta prática. O brincar na praça possibilita o resgate das brincadeiras tradicionais e brinquedos dos parquinhos. A criança caminha por caminhos mais livres, tendo a possibilidade de usar a imaginação e a criatividade. Interagindo com outras crianças e conhecendo-as, elas têm a oportunidade de conhecer as pessoas que vivem ali próximas e/ou que tem os mesmos interesses, ampliando seu círculo social e o contato com a natureza.

   Agora pare e retome por um instante como são suas lembranças de brincadeiras em praças e rua? Tenho certeza que são memórias agradáveis, afetivas e cheias de saudades! Possibilidades que só poderiam ser realizadas naqueles espaços específicos. Espaços esses fora de casa, com liberdade e com crianças maiores cuidando das menores.

A organização atual da sociedade mudou muito: as famílias já não têm a mesma formação que antigamente, a escola ganhou novos desafios e caminhos, a maneira como as crianças brincam (influenciadas por novos brinquedos e pelo consumismo), as casas diminuíram e os espaços para brincar consecutivamente.

A transformação da metrópole resignificou este espaço público de forma que se tornou dispensável. Mesmo com reivindicações para melhoraria das praças, há pouco investimento. Nas cidades pequenas é bem visível como a população usa a praça daquela mesma forma antiga e já nos grandes centros urbanos elas ficam abandonadas em meio às construções....

Conheça um movimento que abraçou essa causa: http://movimentoboapraca.com.br/