Como a gente olha para o brincar? Como a gente entende?
O que o brincar livre nos diz sobre as potências infantis?
Como observar essa relação espontânea do brincar?
Por que brincar livre?
Como é esse corpo brincando?
A intenção não é ter respostas prontas, mas despertar uma reflexão de acordo com minhas concepções e experiências. Também contei com o apoio dos vídeos da série "Diálogos do Brincar" do Instituto Alana.
Diariamente observo as brincadeiras que acontecem nos momentos de espontaneidade, principalmente no parque. Tenho paixão pelo que acontece nesse espaço!
Trabalho como professora do período complementar no ensino fundamental I (2017), as crianças chegam com 5/6 anos e permanecem até os 10/11 anos, com agrupamento multietário. E foi a partir dessa experiência, de dar mais espaço para o brincar livre e suas manifestações, que percebi o quanto o jogo simbólico está presente nessa faixa etária, porém nem as próprias crianças se permitem ser crianças, foi um trabalho de bastante incentivo para se permitirem e aprenderem a lidar cada vez mais com as escolhas, a autonomia e as relações.
Foi oferecendo tempo, espaço e materiais potentes, que se mostraram criativos, enérgicos e cheios de imaginação.
O brincar é um direito que deve ser garantido:
Brincar é um direito de todas as crianças porque é vital para o seu desenvolvimento e bem estar. Isto é reconhecido na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (artigo 31) e no Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil (artigos 4o e 16), como o direito das crianças ao brincar, recreação, lazer, arte e atividades culturais. Ambos os documentos afirmam muito claramente que o brincar não é "opcional" ‐ é essencial na vida das crianças. Se as crianças vivem ao máximo e crescem para ser o melhor que podem ser: física, emocional, social, intelectual e esteticamente, elas precisam de oportunidades para brincar e também para lazer e descanso. Elas precisam de espaço para apenas "ser" a cada dia.
As crianças têm o direito de participar das decisões que lhes dizem respeito (Artigo 12 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança – UNCRC). No brincar, isto inclui fazer escolhas sobre o tipo de brincadeira da qual gostariam de participar: com quem, onde, com que e por quanto tempo elas gostariam de brincar. As crianças também podem dar opinião sobre a forma como elas gostariam que seus ambientes de brincadeira fossem projetados e construídos e fazer parte desse processo de planejamento desde o início. (Fonte: http://www.a-chance-to-play.de/fileadmin/user_upload/a-chance-to-play/ACTP_Brasil/1312_guia_brincar/ACTP_direito_de_brincar_GUIA_PRATICO.pdf)
- O direito ao brincar https://www.youtube.com/watch?v=q23ch9FTEXI
Ao brincar as crianças se mantêm concentradas, negociam, representam diversos papéis, se expressam com múltiplas linguagens, interagem entre diferentes idades e fazem escolhas com autonomia. Criam enredos, personagens, cenas, geringonças e construções. Elas se mostram envolvidas e preocupadas com a estética da brincadeira. Algumas vezes, demoram demasiadamente para organizar, decidir papéis e regras. Fico angustiada de pensar sobre os recreios de 20 minutos...
Observo crianças que gostam de transitar e misturar-se entre as brincadeiras que acontecem em agrupamentos de todo tipo e várias ao mesmo tempo. Às vezes alguma opta por brincar um pouco sozinha (montar um lego, ler, descansar, ficar sem fazer nada) e não vejo como um problema. Tédio e ócio tem poder criativo, a criança aprende a solucionar problemas, a fazer escolhas, a tomar decisões, a pensar, a criar a partir do que vem de dentro dela, aprende a conhecer a si mesma. Se o adulto conhece bem essa criança, saberá o que é necessidade e o que é algo que precisa de um apoio.
Anoto, registro, estou sempre preparada, pois o espontâneo não se repete igual. Quando a criança tem a oportunidade de planejar e colocar em prática por conta própria o que imaginou, ela mostra muito sobre si mesma. E a gente aprende mais com elas.
Já reparou no ritmo das brincadeiras, nos gestos, no compasso, na transformação? Leva tempo, mas o importante é olhar e tentar refletir sobre o que está acontecendo, as minucias, os conceitos, as metáforas e as expressões corporais.
Anoto, registro, estou sempre preparada, pois o espontâneo não se repete igual. Quando a criança tem a oportunidade de planejar e colocar em prática por conta própria o que imaginou, ela mostra muito sobre si mesma. E a gente aprende mais com elas.
Já reparou no ritmo das brincadeiras, nos gestos, no compasso, na transformação? Leva tempo, mas o importante é olhar e tentar refletir sobre o que está acontecendo, as minucias, os conceitos, as metáforas e as expressões corporais.
Brincadeira de mamãe e filhinha é uma das prediletas, seja com famílias de pessoas ou de animais. Brincam de Spa, restaurante, sorveteria, astronautas, aventureiros, clubes, poções mágicas,
circo, parques temáticos, hospital, Pokémon, balada etc.
Os tecidos e as cordas (necessidade de maior atenção por parte dos adultos) são essenciais para despertar essa imaginação e criatividade. A brincadeira de casinha nem sempre acontece com os elementos de casa e sim serve como um lugar de encontro, de proteção e de experiências. A cabana, por exemplo, é uma brincadeira que está diariamente presente, seja de camping, de tecido, de blocos de madeira; construída com bancos, cadeiras, mesas, canos pvc, apresenta diferentes formas. Um espaço acolhedor com ninhos, almofadas, colchonetes, algumas sem entrada de luz para ficarem bem escuras.
Na areia a diversão está por conta das possibilidades que criam: cavam, amontoam, constroem vulcões, aeroportos, restaurantes, comidinhas, desafios etc. Usam folhas, flores, pedrinhas, brinquedos específicos para areia, sucata, coisas de cozinha e algumas vezes usam o brinquedo da sala.
Para determinado grupo de meninos o futebol é a principal fonte de diversão, algumas vezes deixam-no de lado e experimentam brincar de outras coisas mostrando todo seu potencial inventivo e o jogo simbólico aparece.
Se pendurar em diversos lugares do brinquedão é algo muito presente, uma necessidade corporal. Inventam muitas formas de subir, girar e
chegam a criar desafios com tecidos e cordas amarradas. De vez em quando também prendo um elástico grosso em algum espaço do parque criando uma "cama de gato", pura diversão!
No escorregador a diversão fica por conta de escorregar em caixas de papelão, tábuas de carne, tecidos, caixas plásticas, pneus e até uma banheira plástica. Colocam areia, água e outros obstáculos, além de utilizá-lo como rampa para dar impulso em alguns objetos como bolinhas e pneus.
Nesse mesmo espaço, acontecem shows com instrumentos adaptados do parque, palco, bilheteria, várias descobertas de sons e ritmos.
O desenho e a escrita fazem parte do brincar: registram ideias, fazem placas, pedidos, anotações e bilhetes. Criam brincadeiras e enredos no próprio papel.
Às vezes estão tão
envolvidas que procuro não interromper e aviso aos poucos que dali algum tempo
precisarão guardar. Também "congelamos" a brincadeira se existe a possibilidade de voltarmos para o espaço.
Brincar com água, pegar terra na horta, capturar insetos e deixar a água no sol para esquentar, são ações que acontecem com frequência. Se mostram curiosas, valentes ou medrosas em relação aos insetos que aparecem, querem florzinhas, galhos e folhas de plantas para embelezar seus bolos e alimentos de areia. Esses dias se maravilharam ao observar um pássaro que nos visitou com uma bela cantoria.
Todos podem brincar de tudo e é incrível observar os meninos mais velhos passando por um momento onde brincavam apenas com bichos de pelúcia, também teve a fase das fantasias de princesa. Sim, eles já sabem que brincadeira não tem idade, nem gênero. Podem experimentar à vontade sem nenhum olhar adulto que os intimidem.
As crianças dessa faixa etária quando têm a oportunidade de brincar livremente, mostram o quão potentes são se as deixarmos criar e estarmos presentes para apoiá-las em ideias que precisam de ajuda para concluí-las. Tem sido uma bela experiência acompanhar esse brincar no FI.
O educador precisa conhecer bem cada criança, saber como é em casa (parceria com a família), na sala de aula (parceria com a equipe) e se abrir para conhecê-la profundamente criando um vínculo de confiança. Nessa idade já estão construídos muitos estereótipos e preconceitos.
Manter-se disponível, interessado e com olhar pesquisador. Costumo dizer que o primeiro passo para ser um professor inovador é renovar seu olhar: o professor é mediador da aprendizagem, a criança a potência do projeto pedagógico.
Acredite na essência da criança, não direcione e sim escute, observe, esteja junto, deixe acontecer sem saber no que vai dar. Mergulhe junto na imaginação! Você vai se surpreender, entregue-se! Viva essa experiência plena. O adulto que sabe brincar (respeitando sem direcionar) quebra barreiras na relação professor-aluno. A criança passa a confiar mais no adulto e nela mesma.
Quanto mais o adulto tiver contato com seu interior, retomar suas memórias de brincadeiras e sensações, poderá se tornar mais sensível a esse mundo simbólico infantil conseguindo abrir e colaborar com esse campo da criança.
Certo dia, um grupo de meninas solicitou a câmera fotográfica e uma de nós professoras entregou para ver como utilizariam. Criaram filmes, stop motion, histórias incríveis sem nunca termos ensinado nada disso, mosrando as aprendizagens trazidas fora do espaço escolar e aqui puderam colocar em prática com autonomia. Olha que potência! Precisamos dar visibilidade!
Brincar com armas, sentir medo, colocar-se em risco, se sujar... é bem polêmico, mas essencial de se vivenciar na infância. Enfrentar o sucesso e o fracasso, se fortalecer. As crianças precisam sim de segurança, mas sem excesso, sem superproteção. Portanto, devemos considerar o que pode ser benéfico ( que pode fazer parte do repertório de brincadeiras) e apropriado para idade, e o que não for precisa da intervenção do adulto. É possível observar que quando a criança sente medo e avalia que não consegue, ela desiste ou chama um adulto para ajudá-la e cada vez mais vai desenvolvendo sua consciência corporal.
Nós sabemos que as crianças criam armas com qualquer objeto, o próprio corpo em combate, sentir o bem e o mal, sentir-se herói, poder transgredir regras, morrer, matar, viver, reviver. O medo inibe o brincar, deixe-a sentir medo, descobrir seus limites e capacidades, lidar com essas situações.
Penso sobre a importância da criança observar o dia-a-dia na escola, os diferentes cargos, as pessoas trabalhando, o que elas fazem, como fazem. Não precisa chamar o jardineiro para dar uma oficina ou ensinar algo, que tal ele fazer um trabalho no horário em que as crianças possam observar espontaneamente? Elas aprendem observando os gestos, elas imitam.
Quando precisei dar um "tratamento" nas nossas jardineiras, separei os materiais e as crianças já perceberam meu movimento, começaram a observar, ver o que eu estava preparando e rapidamente me perguntaram "Posso ajudar?","Também quero!","O que você vai fazer?". E assim outras crianças foram se aproximando, todos participaram sem eu chamar, um pouco de cada vez de acordo com o interesse, eu não ensinei como fazer, eles me pediam orientação. Colocar a mão na terra e mexer com plantas é algo que elas buscam demais.
É preciso considerar a necessidade de trazer os elementos da natureza para os espaços que não têm essa condição, possibilitando novas experiências e conhecimentos sobre o mundo. Brincar com água, areia, terra, vento, plantas, flores, sol, chuva.
Essa observação minuciosa e investigativa do brincar no cotidiano, a escuta ativa de cada criança, faz cada vez mais nos questionarmos sobre o que oferecemos, sobre o que é realmente importante se elas aprendem o tempo todo com tudo que fazem. Devemos refletir sobre o que propomos de tempo, espaço, materiais, desafios, currículo. Será que a escola valoriza e investe nesse brincar livre?
Brincar livre é brincar por brincar, com fim em si mesmo.
https://www.youtube.com/watch?v=F92uyPkzmro
Confira mais fotos no instagram: www.instagram.com/culturainfantil
Brincar com água, pegar terra na horta, capturar insetos e deixar a água no sol para esquentar, são ações que acontecem com frequência. Se mostram curiosas, valentes ou medrosas em relação aos insetos que aparecem, querem florzinhas, galhos e folhas de plantas para embelezar seus bolos e alimentos de areia. Esses dias se maravilharam ao observar um pássaro que nos visitou com uma bela cantoria.
Todos podem brincar de tudo e é incrível observar os meninos mais velhos passando por um momento onde brincavam apenas com bichos de pelúcia, também teve a fase das fantasias de princesa. Sim, eles já sabem que brincadeira não tem idade, nem gênero. Podem experimentar à vontade sem nenhum olhar adulto que os intimidem.
As crianças dessa faixa etária quando têm a oportunidade de brincar livremente, mostram o quão potentes são se as deixarmos criar e estarmos presentes para apoiá-las em ideias que precisam de ajuda para concluí-las. Tem sido uma bela experiência acompanhar esse brincar no FI.
A brincadeira é um fenômeno cultural que sintetiza os valores do grupo no qual se desenvolve. É impossível apontar claramente onde, quando e como ela surgiu. O certo é que pode ser encontrada em todos os grupos sociais. Sua essência é a espontaneidade e, seu teor, a liberdade. (Fonte: http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-1/a-brincadeira-%E2%80%A8e-livre/ )
O educador precisa conhecer bem cada criança, saber como é em casa (parceria com a família), na sala de aula (parceria com a equipe) e se abrir para conhecê-la profundamente criando um vínculo de confiança. Nessa idade já estão construídos muitos estereótipos e preconceitos.
Manter-se disponível, interessado e com olhar pesquisador. Costumo dizer que o primeiro passo para ser um professor inovador é renovar seu olhar: o professor é mediador da aprendizagem, a criança a potência do projeto pedagógico.
Acredite na essência da criança, não direcione e sim escute, observe, esteja junto, deixe acontecer sem saber no que vai dar. Mergulhe junto na imaginação! Você vai se surpreender, entregue-se! Viva essa experiência plena. O adulto que sabe brincar (respeitando sem direcionar) quebra barreiras na relação professor-aluno. A criança passa a confiar mais no adulto e nela mesma.
Quanto mais o adulto tiver contato com seu interior, retomar suas memórias de brincadeiras e sensações, poderá se tornar mais sensível a esse mundo simbólico infantil conseguindo abrir e colaborar com esse campo da criança.
Certo dia, um grupo de meninas solicitou a câmera fotográfica e uma de nós professoras entregou para ver como utilizariam. Criaram filmes, stop motion, histórias incríveis sem nunca termos ensinado nada disso, mosrando as aprendizagens trazidas fora do espaço escolar e aqui puderam colocar em prática com autonomia. Olha que potência! Precisamos dar visibilidade!
Brincar com armas, sentir medo, colocar-se em risco, se sujar... é bem polêmico, mas essencial de se vivenciar na infância. Enfrentar o sucesso e o fracasso, se fortalecer. As crianças precisam sim de segurança, mas sem excesso, sem superproteção. Portanto, devemos considerar o que pode ser benéfico ( que pode fazer parte do repertório de brincadeiras) e apropriado para idade, e o que não for precisa da intervenção do adulto. É possível observar que quando a criança sente medo e avalia que não consegue, ela desiste ou chama um adulto para ajudá-la e cada vez mais vai desenvolvendo sua consciência corporal.
Nós sabemos que as crianças criam armas com qualquer objeto, o próprio corpo em combate, sentir o bem e o mal, sentir-se herói, poder transgredir regras, morrer, matar, viver, reviver. O medo inibe o brincar, deixe-a sentir medo, descobrir seus limites e capacidades, lidar com essas situações.
- Quando o risco vale a pena
- A criança que se sente capaz
Penso sobre a importância da criança observar o dia-a-dia na escola, os diferentes cargos, as pessoas trabalhando, o que elas fazem, como fazem. Não precisa chamar o jardineiro para dar uma oficina ou ensinar algo, que tal ele fazer um trabalho no horário em que as crianças possam observar espontaneamente? Elas aprendem observando os gestos, elas imitam.
Quando precisei dar um "tratamento" nas nossas jardineiras, separei os materiais e as crianças já perceberam meu movimento, começaram a observar, ver o que eu estava preparando e rapidamente me perguntaram "Posso ajudar?","Também quero!","O que você vai fazer?". E assim outras crianças foram se aproximando, todos participaram sem eu chamar, um pouco de cada vez de acordo com o interesse, eu não ensinei como fazer, eles me pediam orientação. Colocar a mão na terra e mexer com plantas é algo que elas buscam demais.
É preciso considerar a necessidade de trazer os elementos da natureza para os espaços que não têm essa condição, possibilitando novas experiências e conhecimentos sobre o mundo. Brincar com água, areia, terra, vento, plantas, flores, sol, chuva.
- Brincar com os elementos da natureza https://vimeo.com/40889334
Essa observação minuciosa e investigativa do brincar no cotidiano, a escuta ativa de cada criança, faz cada vez mais nos questionarmos sobre o que oferecemos, sobre o que é realmente importante se elas aprendem o tempo todo com tudo que fazem. Devemos refletir sobre o que propomos de tempo, espaço, materiais, desafios, currículo. Será que a escola valoriza e investe nesse brincar livre?
Brincar livre é brincar por brincar, com fim em si mesmo.
*Essa é uma reflexão a partir das minhas práticas, estudos e observações, um ponto de vista bem pessoal.
Confira esse vídeo sobre: "O que é brincar? Por que é importante brincar?"
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