quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A EXPERIÊNCIA DE VIVENCIAR REGGIO EMILIA


Grupo de Estudos 2013



Em maio de 2013, passei uma semana com o grupo de estudos da Red Solare América Latina em Reggio Emilia para aprender mais sobre a abordagem.

Tanto na faculdade quanto nas escolas onde trabalhei ouvi falar dessa proposta e fui apresentada ao livro "As cem linguagens da criança". Nessa época achei incrível, entretanto não conseguia relacionar com a realidade brasileira, parecia muito distante.

Alguns anos se passaram, novas experiências, estudos e uma necessidade emergiu: respeitar mais a voz das crianças, ouvi-las, considerá-las e não chegar com toda proposta pronta em sala de aula. 

O trabalho com projetos, a pesquisa, o protagonismo infantil, a arte e o brincar me cativam demais. Muito me agrada espaços com terra, árvores, flores, animais, brincar sem camiseta, descalço, com meleca, água, tinta...

No início do ano me inscrevi em um grupo de estudos sobre Reggio Emilia para aprofundar meus conhecimentos e fiquei muito interessada em conhecer a cidade e decidi continuar os estudos por conta própria. 

Somente com as leituras e reflexões não eu estava satisfeita e queria formar minha própria opinião. 

Vivenciar, conhecer, tirar dúvidas pessoalmente, "ver com os próprios olhos" me fez mudar de opinião sobre alguns aspectos e a abordagem me pareceu mais próxima, devido a compreensão do contexto. Hoje minha experiência me ajuda a observar melhor as possibilidades de diálogo, coletei muitas ideias e embora seja realmente maravilhoso, voltei de lá pensando "O que seria possível trabalhar na nossa realidade?". 

Não dá para importar uma abordagem de outro contexto e aplicá-la em outro. Não é porque trabalham de tal maneira lá que faremos igual aqui, Reggio para mim é uma inspiração, uma fonte para aprender muito!

Mantive o olhar crítico e procurei entender como é o trabalho dos professores: quais são as condições de trabalho, que contexto é esse, que sociedade, que valores etc.

Permaneci na cidade todos os dias depois dos seminários, andei bastante para fotografá-la, vivenciá-la e compreendê-la.

Confira as fotos: 

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.454668847983685.1073741829.100003217211598&type=1&l=f87c0ea657


Esses foram os temas abordados:
  • Contexto histórico
  • Projeto educativo
  • Visitas às escolas
  • Escola e cidade
  • Observação, documentação e interpretação
  • Inclusão
  • Ensino Fundamental I
Nesta apresentação que fiz no Prezi descrevo um pouquinho sobre cada item:


Nesta outra apresentação há mais fotos que peguei no google mesmo e que ilustram bem o trabalho: 

http://prezi.com/vxg4yplurivf/untitled-prezi/?utm_campaign=share&utm_medium=copy


Foi importantíssimo voltar e retomar os textos, as leituras tem cada vez mais ganhado um novo sentido. Também pude avaliar o meu trabalho, minhas escolhas e voltei bem feliz! Aqui no Brasil também fazemos trabalhos riquíssimos e de muito valor.

Meu objetivo neste artigo é compartilhar um resumo breve de como foi a MINHA experiência. Acredito que cada ser é único, com sua história e suas vivências, então cada um faz sua leitura, algumas se encontram e outras se desencontram.

Registros de algumas informações...


Na creche de 0 a 3 anos perguntamos sobre relatórios e elas não fazem. A avaliação  são reuniões com os pais individuais e reuniões coletivas onde se apresenta o fim de um projeto com o desenvolvimento do grupo todo, priorizando o grupo. Na escola até 5 anos não perguntamos.


Em Reggio as crianças utilizam muito a tecnologia de uma maneira livre, a escola aproveita os conhecimentos que vem de casa, as professoras não ensinam.

Todas as filmagens que assisti percebi uma separação por gênero entre meninas e meninos (mas também foram recortes da realidade deles).

Algumas atividades duram mais de 1h30 min com um grupo de 3 crianças e dois adultos: um filmando e outro observando. Nas apresentações que assistimos sempre há muitos adultos envolta de uma situação com poucas crianças.

Não há mostra de trabalhos e sim cada turma apresenta seu trabalho ao termino de cada um.

Disseram que há um currículo, mas não foi divulgado.

A matemática e a língua são ensinadas por meio das brincadeiras que surgem e não usam os nomes das disciplinas porque na educação infantil nem existe essa fragmentação, só o professor é que sabe.
Usam a escrita para comunicar algo que precisam: troca de cartas, mapas de desenhar, quadrinhos, falas nas argilas, jornal para os pais, folhetos..é uma iniciativa das crianças e a organização também é por conta delas.
Há muitas brincadeiras de contar, classificar, ordenar, dividir...utilizando elementos da natureza, brincando no mercadinho, participando de jogos com regras, desenhando, contando os amigos presentes, usam balança para pesar etc.

Utilizam o contexto, não há sequências ou fichas.

Muito cuidado e beleza com a estética do ambiente.


Há um centro de reciclagem criativa chamado REMIDA que recebe materiais industriais descartáveis de empresas. Estes materiais são utilizados nas salas de aula com as crianças para investigações, pesquisa e brincadeira. Há pouquíssimos brinquedos por lá.

O trabalho acontece sempre em pequenos grupos, caso contrário seria outra abordagem.

As crianças são acostumadas desde pequenas com as mudanças de estações que influenciam muito o trabalho na escola, eles levam materiais naturais.


Do interesse de um pequeno grupo nasce um projeto para o grupo todo. Os percursos são gerados pelo interesse das crianças, não sabe quanto tempo irá durar.

As salas têm um tema em comum para se aprofundar, em 2013 é a figura humana.

A argila é levada ao forno e se transforma em cerâmica, por isso tão linda!
Muitos desenhos de observação e com flores naturais.
Tem exposição de arte até nos banheiros!

As crianças em trios usam a cozinha industrial para culinária. Eles também arrumam a mesa do almoço para os colegas.
Não há biblioteca, os livros estão espalhados em diferentes lugares da escola. E em momentos de produção, por exemplo, vi livros abertos nas mesas para as crianças observarem as imagens.

Não tem lousa, só pequena para brincar.

Na rotina escolar nem todas podem escolher a mesma proposta, eles aprendem a esperar e fazer em outro momento. Isso porque são organizadas várias propostas com diferentes áreas de interesse. 
Não é obrigatório participar, também aprendem observando.

Não tem aulas de inglês na educação infantil, há inserções de vivências de adultos da comunidade e livros, eles recebem muitas crianças com culturas diferentes. 

Preparar um espetáculo já é um projeto.


Todas essas informações foram recebidas durante as visitas as quatro escolas que pude conhecer. Também fui informada que nem todas as escolas italianas seguem esta abordagem.



Para saber mais sobre a abordagem acesse o site do Centro Internacional Reggio Children http://www.reggiochildren.it/centro-internazionale-loris-malaguzzi/?lang=en e do Centro Internacional Loris Malaguzzi.

VISITE O NOVO SITE DO BLOG CULTURA INFANTIL www.blogculturainfantil.com.br/blog
Dica de algumas leituras:





terça-feira, 1 de outubro de 2013

SOBRE O TRABALHO COM LEITURA COMPARTILHADA*

*Neste artigo cito algumas partes de textos divulgados no blog e na apostila de estudos da Escola da Vila.

O que seria leitura compartilhada?[i]
Acompanhar, em seu próprio exemplar, a leitura de um título a ser feita pelo professor. 

Porque leitura compartilhada?
As leituras compartilhadas destacam-se como situações favoráveis à reflexão e à discussão sobre o lido. São momentos dedicados à apreciação, à troca de impressões e opiniões e ainda à análise de elementos literários, entre eles, o papel de narrador, as mudanças vividas por um personagem central, as motivações de personagens para determinadas atitudes, a linguagem usada pelo autor para se referir a um evento ou mesmo para descrever personagens e situações, o tempo em que se passa a historia e o tempo em que é contada, etc.
As leituras compartilhadas, assim como os demais espaços destinados ao contato com a literatura, contribuem para a participação dos alunos numa comunidade escolar de leitores, na qual avançam não apenas em suas competências para enfrentar obras e autores diversos, mas também em suas possibilidades de refletir, analisar e argumentar.

O papel do professor
Para que ampliem suas possibilidades de compreensão e apreciação é fundamental que contem com a mediação do professor, que tem a função de favorecer e instigar a observação de aspectos da obra que passariam despercebidos e que se colocam como necessários para a atribuição de sentidos e significados. 

Para saber mais...[ii]
  • Compreender de forma segura que a leitura compartilhada é a base da formação de leitores.
  • Reconhecer a importância desse espaço de leitura que procura solucionar dois problemas que enfrentamos: a falta da leitura familiar e o ensino baseado na leitura de um acervo reduzido de obras cuja interpretação é monopolizada pelo professor.
  • Compartilhar com entusiasmo, a construção de significado, as conexões estabelecidas entre os livros.
  • Compartilhar leituras nos primeiros anos de vida duplica a possibilidade de tornar-se um leitor; falar sobre livros com as pessoas que o rodeiam é o fator que mais se relaciona com a permanência de hábitos de leitura.
  • Compartilhar é importante porque possibilita o leitor beneficiar-se da competência dos outros para construir o sentido e obter o prazer de entender melhor os livros. Também permite experimentar a literatura em sua dimensão socializadora, fazendo com que a pessoa se sinta parte de uma comunidade de leitores com referências e cumplicidades múltiplas.
  • Selecionar livros que, ao serem compartilhados, ofereçam alguma dificuldade ao leitor para que valha a pena investir neles o tempo escolar.
  • Implica um esforço de construção dos alunos.
  • Compartilhar as leituras não apenas estabelece vínculos entre os leitores de alguns livros em um momento determinado, como nos conecta com sua tradição cultural. A escola deve velar para que assim seja, já que as novas gerações têm direito a não ser despojadas da herança literária da humanidade. Sem ela, as crianças se acham condenadas, como Peter Pan, a viver em um lugar de eterno presente, em que tudo se esquece de imediato.
OBJETIVOS
  • Ampliar esse apropriar do vocabulário e de expressões típicas
  • Desenvolver o prazer pela leitura
  • Aprender a manusear o livro (índice e páginas)
  • Acompanhar a leitura
  • Ampliar o repertório literário
  • Compartilhar experiências leitoras
  • Confrontar interpretações
  • Estabelecer relações com outros textos
  • Ouvir com atenção a leitura
  • Identificar características típicas deste tipo de texto
ENCAMINHAMENTOS:
  • Formular previsões sobre o texto a ser lido.
  • É possível fazer paradas estratégicas para discutir a história e fazer previsões. Pare num momento de clímax da história. Converse com os alunos sobre como imaginam que a história vai continuar.
  • Formular perguntas sobre o que foi lido.
  • Com que tipo de história eles relacionam a do livro? Eles se lembram de alguma outra história parecida com ela? Qual?
  • Esclarecer possíveis dúvidas sobre o texto.
  • Abrir para ouvir as interpretações, como cada um compreendeu
  • Resumir as ideias do texto.
  • Relações entre texto e imagens
ORIENTAÇÕES:
  • Informe aos alunos que eles vão ler uma história, de forma compartilhada. A leitura será feita com o objetivo de aprender e, também, por prazer.
  • Combine com os alunos a data em que todos devem ter o livro.
  • Combine quantas vezes por semana acontecerá a leitura.
  • Falar um pouco sobre o autor e apresentar o livro
  • Ler o título do livro e fazer com os alunos uma exploração da ilustração da capa.
VISITE O NOVO SITE DO BLOG CULTURA INFANTIL www.blogculturainfantil.com.br/blog



[i] Fonte: LUIZE, Andrea. A leitura compartilhada nas classes de fundamental I. Disponível em http://www.vila.com.br/blog/?p=3033 acesso em 29-9-2013

[ii] Fonte: VILA, Centro de estudos. Intervenções do professor nas situações de leitura compartilhada nas classes de Fundamental I. São Paulo, 2012.