terça-feira, 21 de agosto de 2012

OFICINA DE PERCURSO CRIADOR: vivenciar, alimentar e cultivar.


“Sabemos que uma criança absorvida num desenho ou em outra atividade criativa qualquer é uma criança feliz. Sabemos, pela simples experiência diária, que auto-expressão é auto-desenvolvimento. Por essa razão é nosso dever reivindicar uma grande parcela do tempo da criança para atividades artísticas (...)”( Read, 1986)










Como funciona essa oficina?1


A oficina de percurso acontece a cada 15 dias. É um momento reservado para a criação autônoma e pode durar 40 minutos a uma hora.

O espaço utilizado pode ser a sala de aula ou o ateliê – o que não impede de ser planejada em outro espaço, organizada de modo que a proposta seja realizada com espontaneidade. As crianças precisam saber onde estão todos os materiais (que podem ficar dispostos em cadeiras ao redor das mesas encostadas nas paredes, em outras mesas ou mesmo no chão) podem trabalhar em pé ao redor das mesas ou no chão para facilitar a circulação: a troca de materiais, a observação das produções dos colegas e a troca de experiências. Enquanto produzem algumas crianças silenciam, outras conversam e até cantam se houver música.

Um dos focos do trabalho é a autonomia: a escolha do que irá fazer e dos materiais. Assim, cada criança desenvolve seu percurso criador pessoal.

Conforme o tempo da oficina, é possível fazer mais de uma produção, é preciso considerar um determinado espaço para secar os trabalhos. Um segundo foco dessa proposta está em explorar e aprofundar as possibilidades dos diversos materiais, para isso o combinado é que mesclem no mínimo duas das linguagens oferecidas.

Para que construam um percurso próprio, as crianças trabalham somente com materiais e procedimentos que já manejam com autonomia: giz, lápis de cor, caneta hidrocor e de retroprojetor, guache, anilina, diferentes suportes (papéis), pincéis, cola, fita crepe, barbante, pequenos objetos tridimensionais para colagem e outros. Além das linguagens da arte, também considero os materiais não estruturados. 

A oficina é um momento propício a criação: descoberta de possibilidades, de associações, combinações, reorganizações e reinvenções. Portanto, devem dominar bem as linguagens e os materiais para que possam transgredir e reapresentá-los com sua marca individual.

As aprendizagens são exclusivas dessa forma de produzir, de pesquisar.

Durante todas as propostas de artes enfatizo que é preciso respeitar o jeito de cada um se expressar, assim como é preciso acatar os procedimentos diários como cuidar dos materiais que usam e ajudar a organizar o espaço, lavar os pincéis, não sujar o uniforme (mesmo com a camiseta de artes), colocar sua produção para secar e cuidar das demais.

Ao planejar considerar...

- A organização do espaço 
- Frequência das oficinas (quinzenal ou semanal)
- Tempo de duração 
- Organização do espaço 
- Apreciação dos trabalhos (fazer uma roda)
- Escolher modalidades que as crianças dominam
- Escolha dos materiais

Sugestões em relação aos materiais:

Meios: carvão, lápis grafite, lápis de cor, lápis aquarelável, giz de cera, giz pastel seco e oleoso, giz para tecido, caneta para tecido, hidrocor grossa e fina, anilina, guache, tinta acrílica, guache com farinha, anilina com cola, giz de lousa seco e molhado, cola e areia, areia colorida, serragem colorida, caneta retroprojetor, caneta futura, tintas caseiras, corantes naturais, aquarela, terra, nanquim, sagu, carga de hidrocor, caneta esferográfica colorida, lã, cola relevo etc.
Suportes: sulfite, cartolina, color set, papel cartão, papel de presente, papel espelho, camurça, papel de seda, craft, jornal, revistas, partituras e folhas de livros velhas, talagarça, plástico bolha, acetato, plástico com 4 furos para pasta, crepon, papelão, caixas, tecido estampado, tecido cru, cartolina espelhada, papel vegetal, celofane, lumi paper, bloco criativo, canson, lixa, E.V.A, etiquetas, bandeja de isopor, saco de pão, feltro, forminha de papel para doces, papel reciclado, papel ondulado etc. Também é importante oferecer diversas formas e tamanhos.
Ferramentas: pincel chato, trincha, pincel comum redondo, brocha, vassourinhas, rodo, escovas de todos os tipos, rolinho pequeno, esponjas, buchas, pincel para nanquim, pena, cotonete, retroprojetor, tesoura, palitos, esteca, palitos etc.
Elementos de ligação: cola em bastão, cola líquida, fita crepe grossa e fina, durex, cola quente, fios, barbante, fita de cetim, fitas de presente, canudo etc.
Podem-se incluir elementos da natureza: pedras, folhas, corantes naturais, sementes, galhos etc.


Outras considerações importantes...


O contato regular com a diversidade de materiais favorece o conhecimento mais profundo de cada um deles e permite a criança concentrar-se em sua ação e não apenas com o que fazer.

No processo de aprendizagem em Artes Visuais, a criança traça um percurso de criação e construção individual, que envolve escolhas, experiências pessoais, aprendizagens, relação com a natureza, motivação interna e/ou externa.

O percurso individual pode ser, significativamente, enriquecido pela ação educativa intencional, porém, a criação artística é um ato exclusivo da criança.2

Cada uma cria seu caminho para construir conhecimentos em arte. As mediações do educador, incentivam as crianças e mantêm a criatividade: 


  • se errar, o desafio é transformar o erro em outra coisa, já que procuro não oferecer a borracha.
  • ao me mostrarem suas produções, comento sobre as cores, as linhas, o espaço, as marcas, os detalhes e peço para que me contem o que desenharam, algumas vezes me respondem “nada!” e digo “Ah, então você estava testando os movimentos, as cores e a caneta? e respondem "Não quis desenhar, só experimentar!” e se mostram satisfeitos por eu ter apreciado o resultado do trabalho, mesmo que não contenha uma representação da realidade. Reprimir a criança, dizendo-lhe que ela não desenhou nada ou que são rabiscos, pode bloquear ou romper o desenvolvimento de sua criatividade. Dizer apenas que está lindo não diz nada, repito que o conceito de bonito e feio é diferente para cada ser humano. 
  • e nada de perfeccionismo, as crianças bagunçam e sujam o espaço, é assim o processo, a não ser que queira que elas te agradem o tempo todo e produzam sem sentido.


O professor, não precisa se omitir durante a oficina de percurso com receio de bloquear a produção. Deve dialogar com as crianças, perguntar suas intenções, como pensou nesse ou naquele trabalho, colocar novos desafios, mostrar aspectos recorrentes em diferentes trabalhos tornando a marca pessoal observável e cada vez mais consciente.

É importante que o professor se planeje para acompanhar todos da turma mais de perto, observando como cada um trabalha, qual é seu estilo, a modalidade que mais procura trabalhar, em que precisa de maior apoio... Por isso é importante saber a hora de intervir para não queimar ou excluir etapas.3

A proposta não determina o percurso criador, ao contrário, alimenta-o e colocam novas questões e desafios para que ele se transforme. Uma boa proposta é aquela que revela mais a individualidade e as características de cada criança, suas diferenças e peculiaridades.

Na criação, as crianças demonstram muita ludicidade: brincam, jogam, inventam, narram, conversam, trocam etc.

Na oficina a proposta é livre, o objetivo é que as crianças tenham um momento de criação a partir de seu próprio repertório e da utilização dos elementos da linguagem que trabalhamos em sala.

Para oficinas com crianças de 2 e 3 anos coloque as modalidades progressivamente, mas no mínimo comece com 2, até que eles manipulem os materiais com autonomia. O importante é que eles estejam participando e se familiarizando com esta nova proposta de arte.

Cuidado com o tipo de música escolhida, pois pode agitar muito as crianças. O gostoso é que se mantenham no embalo da canção e o grupo trabalhe.

Pensar e conversar sobre como cada produtor de arte tem suas ideias, qual o ponto de partida para se fazer um trabalho, se é pelo tema ou o assunto, partindo do que quer fazer ou é escolhendo e mexendo no material que surgem as ideias é revelador do fato de que não existe um único caminho nos processos de criação. Assim, as crianças podem identificar e comparar seu jeito pessoal de produzir com o de outros e também se inspirar ou experimentar um ou outro ponto de partida, ajudando aquelas crianças que na oficina de percurso têm dificuldade de começar um trabalho alegando: ‘Não tenho ideia!’.4

Apreciação


Neste momento o professor elege alguns trabalhos de acordo com o objetivo pré-estabelecido e pensa boas perguntas para o grupo.

Sugestões 5:


• conversar sobre as possibilidades de combinação de modalidades e mistura de materiais, ou seja, o caráter experimental da atividade;
• debater sobre o tempo de realização de cada trabalho, enquanto em uma oficina alguns alunos realizam mais de um trabalho, outros podem levar algumas aulas para finalização, o que precisa ser reconhecido entre os alunos como marca pessoal;
• conversar coletiva sobre o processo de cada um, como tiveram a ideia do trabalho, mudanças no percurso;
• selecionar um trabalho de cada modalidade, de alguns alunos, para debater sobre as suas características, os materiais utilizados, outras possibilidades;
• selecionar alguns trabalhos na mesma modalidade, de diferentes alunos, para observar semelhanças e diferenças, e trocar possibilidades dentro da mesma modalidade;
• selecionar vários trabalhos do mesmo aluno para observar marcas pessoais.


A apreciação ajuda o aluno a falar sobre o que fez, sobre como pensou em usar os materiais, explicar suas escolhas etc.

Avaliação

Pode ser realizada mensalmente. O professor observa a cada aula e conhece melhor sobre o percurso de cada um, assim pode fazer intervenções significativas para cada aluno, por exemplo, sugerir novos materiais se percebe que usa sempre os mesmos etc.


Bibliografia


Disponível no site revistaescola.abril.com/arte/fundamentos/oficina-de-percurso-426096.shtml acesso em 19/8/2012.

VILA, Centro de Estudos da Escola da. Para saber mais: Oficina de Percurso, 2005. 
MEC, SEF. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 3, Brasília: 1999.

Para saber mais sobre criatividade...


• Arte e conhecimento: ver, imaginar, criar – Jacob Bronowski
• Arte e ciência da criatividade – George Knerller

• Desenvolvimento da capacidade criadora – Viktor Lowenfeld
• Imaginação e arte na infância – Vygotsky
• Psicologia da criatividade – Maria helena Novaes
• Criatividade e processos de criação – Fayga Ostrower
• A educação criadora nas artes – Robert Saunders
• A redenção do robô: meu encontro com a educação através da arte – Herbert Read

VISITE O NOVO SITE DO BLOG CULTURA INFANTIL www.blogculturainfantil.com.br/blog

*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre.

[1] A oficina de percurso que apresento neste artigo se refere ao modo como eu trabalho. Cada professora organiza como desejar.

[2] Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil.

[3] e [4] VILA, Centro de Estudos da Escola da. Para saber mais: Oficina de Percurso, 2005.

[5] Disponível no site revistaescola.abril.com/arte/fundamentos/oficina-de-percurso-426096.shtml acesso em 19/8/2012.